O CRISTÃO E O VOTO
Escrito por Ev. Caramuru Afonso Francisco
Muito se discute, na atualidade, sobre a viabilidade de o servo de
Cristo Jesus, diante do estado generalizado de corrupção que existe na
política, não votar nas eleições, como uma demonstração não só de protesto ao
sistema político do país, mas, também, como uma forma de se portar como
“cidadão dos céus”, não se envolvendo com “as coisas desta vida”.
Não é de hoje que se tem, entre os que cristãos se dizem ser, uma
postura de aversão à política, um discurso que nada mais é que levar ao campo
da política, que é a face da vida em sociedade vinculada ao poder e às
decisões, da tese da saída do mundo secular para que se tenha uma real
santificação.
Este
discurso é enganoso e sem respaldo bíblico, pois santificação é um processo
contínuo de separação do pecado, não dos pecadores. Jesus ensina-nos que não
somos do mundo, mas que, nem por isso, deixamos de estar no mundo (Jo.17:11,14-16)
mundo estamos precisamente para melhorá-lo, para levá-lo a conhecer a salvação
em Cristo (Mc.16:15; Mt.28:18-20), já que somos “sal da terra” e “luz do mundo”
(Mt.5:13-16).
Logo se vê, portanto, que não faz parte da vida cristã querida pelo
Senhor Jesus que o cristão, por causa de sua fé, ausente-se da participação
política, dos processos de tomada de decisões, mas, bem ao contrário, que, como
servos de Cristo, devemos tudo fazer para influenciar as pessoas a tomarem
decisões e exercerem o poder de mando na sociedade de forma agradável a Deus,
em obediência à Sua Palavra.
Ora, num Estado Democrático de Direito, como é o Brasil, em que o povo
exerce o poder, precipuamente, a partir de representantes eleitos
periodicamente, tem-se que é fundamental que o servo de Jesus, por ocasião das
eleições, participe ativamente da escolha dos representantes do povo,
influenciando a sociedade nas escolhas a serem feitas, como também participando
desta escolha, o que somente se faz, diante da legislação vigente em nosso
país, através do voto em algum dos candidatos registrados pelos partidos
políticos.
Em nossa ordem jurídica, os votos nulos, os votos em branco e a ausência
na votação não produzem efeito algum no resultado do pleito. Os eleitos são
conhecidos a partir do total de votos dados aos candidatos registrados. Assim,
quem anula seu voto, vota em branco ou não comparece à urna simplesmente se
aliena de todo o processo de escolha dos governantes, não influenciando coisa
alguma no resultado final.
Trata-se, pois, de uma atitude de separação da sociedade, de retirada da
sociedade, ainda que só no instante do voto, o que se constitui, como vimos, em
comportamento absolutamente contrário ao que se espera de alguém que se diga
“sal da terra” e “luz do mundo”.
Dirão alguns que se estaria diante de um “legítimo protesto” contra
“tudo isto que está aí”, mas, na verdade, o que se tem é o consentimento com
“tudo isto que está aí”, pois a atitude de retirada da sociedade no momento da
decisão é simplesmente permitir que os inimigos da Palavra de Deus tomem suas
posições, sabendo que os seguidores do Evangelho simplesmente se negam a tomar
posição. É deixar o campo completamente livre para todos quantos são contrários
às Escrituras.
É isto uma atitude correta do ponto-de-vista espiritual? Efetivamente
que não, pois a Bíblia manda à Igreja lutar contra as hostes espirituais da
maldade (Ef.6:11,12), resistir ao diabo (Tg.4:3), não se omitir, pois a omissão
é uma forma de consentimento e o consentimento deliberado com o triunfo do
pecado nada mais é que pecado (Rm.1:32; Tg.4:17).
Sabemos que a salvação do homem não está na política, e, sim, em Cristo
Jesus, mas não podemos, nos momentos em que formos chamados a promover a
escolha dos governantes, mostrar aos candidatos que tanto faz como tanto fez
seguir ou não a vontade de Deus, já que os servos do Senhor se omitem e, desta
maneira, nada representam no universo eleitoral em termos de definição dos
eleitos.
Os políticos são movidos a voto e, por isso, tenderão a tomar esta ou
aquela decisão conforme a avaliação do que lhes poderá acontecer em eleições e,
se os servos de Deus sempre forem relevantes na determinação do universo
eleitoral, que é o dos votos nos candidatos registrados, será sempre um fator a
ser considerado nas políticas a ser desenvolvida a conformidade, ou não, com a
sã doutrina.
Sem
dúvida que devemos orar a Deus em prol das autoridades constituídas, pois este
é nosso dever (I Tm.2:1-3), mas não basta apenas interceder, mas, nos momentos
em que formos convocados a escolher dentre os candidatos aqueles que devem nos
governar, devemos também fazê-lo de modo relevante, a fim de que sejamos, como
Abraão, uma bênção para todos os nossos concidadãos e compatriotas.
Anular
o voto é tomar uma atitude de alheamento da vida em sociedade, o que contraria
a Bíblia Sagrada, e, portanto, cometer pecado, pois estaremos a desprezar o
outro e a permitir, deliberadamente, que o inimigo tenha ainda mais campo para
agir no lugar onde Deus nos pôs nesta terra para servi-lo (Pv.14:21).
Uma
regra que deve ser observada é se existe um Candidato que seja temente a Deus
que esteja concorrendo, e faça sua escolha por um homem ou mulher que tema ao
Senhor (doméstico da fé). Essa é uma regra decisiva para retardar o
apodrecimento célere de uma sociedade sem Deus e sem salvação, até porque a
Igreja é o “sal da terra”, que impedirá o total apodrecimento da sociedade
enquanto estiver no meio dela ativamente. Lembre-se que quando um JUSTO governa
O POVO SE ALEGRA, mas quando um ÍMPIO domina O POVO GEME. (Prov. 29:2).