Pregadores ou profissionais de púlpito?
Pastor Geremias Couto
Uma voz que não se cala.
Nada tenho contra eventos e a participação de
pregadores convidados, embora continue a crer que tornar essa prática uma
rotina na igreja local pode gerar todo tipo de consequências, entre elas a
falta de substância, a perda de identidade, além de uma exposição bíblica
acidentada e fragmentada, em virtude das diferentes visões daqueles que vêm de
fora. Tal fato se agrava quando ditos pregadores são profissionais de púlpito,
portadores de um número limitado de mensagens - aquelas que mais agradam ao
auditório - e por isso mesmo passam a pregar no "piloto automático",
ou seja, de forma mecânica, com uma "graça" que não é graça, apelando
a todos os chavões para movimentar a plateia. Com as exceções de praxe, sei que
isso muitas vezes acontece por faltar na igreja local quem exponha de forma
consistente a Palavra de Deus. Mas não deveria ser assim.
Este é o ponto que gostaria de focar nesta
postagem.
Entendo que pregar é uma tarefa que nos impõe
enorme responsabilidade. Não é simplesmente cumprir mais uma agenda, fazer uma
exposição verborrágica e partir para o próximo compromisso. Não é massagear o
ego dos ouvintes, enquanto os nossos bolsos são massageados com polpudos
cachês. Não é contar um monte de histórias, a maioria delas inverossímeis,
enquanto o nosso histórico é mais capenga do que carro dos anos 60 sem
manutenção. Não é um exercício de oratória com o propósito de mostrar as nossas
habilidades retóricas, que não passam de esqueletos sem carne e sem vida.
Afinal, o que é pregar?
Pregar significa, antes de tudo, comprometimento
com Deus de tal maneira que nossa comunhão com ele seja como o nosso fôlego: se
nos faltar, morremos. Isso implica em vida de oração, na qual a ênfase não é
para o monólogo, onde falamos sozinhos, mas para o diálogo, onde a nossa intenção
é ouvir mais e falar menos, mas dialogar com aquele que muitas vezes usa as
janelas mais simples da vida para nos ensinar preciosas lições. Pregar implica,
também, em ter prazer na leitura da Escritura. Não lê-la simplesmente com
intuito acadêmico, mas com a finalidade de metabolizá-la e torná-la parte
indissociável de nossas vidas. É saboreá-la assim como se saboreia a comida
mais prazerosa que nos é oferecida. É cumprirmos um "rito" que se
assemelha ao que usamos quando estamos diante de uma boa refeição. É degustar,
enquanto comemos.
Afinal, o que é pregar?
Pregar significa deixar que a mensagem fale
primeiro ao nosso coração antes de entregá-la ao povo. Não é um processo da
noite para o dia. É laborioso, leva tempo, exige reflexão, meditação, assimilação
e compreensão. Requer ousadia para permitir que ela - a mensagem - nos corrija
e nos leve a um patamar de piedade em que somos expurgados de nossos pecados, o
nosso "eu" é subjugado e o "eu" de Cristo predomine em
plenitude. Enquanto a mensagem for algo pensado apenas para os ouvintes, terá
menos valor até porque ela poderá produzir os seus efeitos, mas ficaremos de
fora por não os experimentarmos nós mesmos. Precisamos pensá-la, antes, sobre
de que forma ela se aplica em nós, quais os resultados produzirá em nosso coração. Em uma frase: o
pregador prega primeiro para si mesmo. Se não for assim, é melhor deixar de
pregar.
Afinal, o que é pregar?
Pregar é expor todo o conselho de Deus sem se
preocupar se o povo aceitará ou não a mensagem. É obvio que pregamos com o
propósito de edificar os ouvintes, mas pode ser que, no primeiro momento, essa
edificação não seja aceita de bom grado por expor as vísceras pecaminosas de
cada um, por configurar uma forma de retirar os carrapichos das ovelhas. Pode ser
um momento sofrido, de dor, extremamente desconfortável, que, na hora, poderá
causa rejeição, mas depois a alegria virá multiplicada pelos efeitos que
produziu. Com isso, não advogo a estupidez, o uso da franqueza para justificar
a grosseria, mas a fidelidade à mensagem que precisa ser transmitida.
Afinal, o que é pregar?
Pregar não é agir como camaleão, que muda de cor de
acordo com as circunstâncias. Se o ambiente é conservador, a mensagem é
conservadora. Se, por outro lado, o ambiente é liberal, a mensagem é
flexibilizada. Entendo que, de acordo com o lugar, temos de usar linguagem
adequada com a finalidade de tornar compreensível a mensagem para o auditório
ao qual pregamos. Não ponho também em dúvida a necessidade de contextualizá-la
ao meio, que é extrair de um texto escrito há milhares de anos a mensagem que
se aplica à realidade atual. Refiro-me, de fato, àqueles que mudam o teor,
alteram o conteúdo, aliviam os conceitos ou fazem tudo ao inverso só porque
querem ficar "bem na fita" no ambiente em que estão. Para esses não
há outra maneira de qualificá-los: são simplesmente profissionais de púlpito.
Temos de pregar a tempo e fora de tempo. Mas
precisamos estar dispostos a sermos apenas ferramentas nas mãos de Deus. Não
somos "showman". Não somos a pessoa para a qual os olhos dos ouvintes
devem estar voltados. Não somos produtores de espetáculo. A mensagem não é
nossa. Somos apenas o meio para que a glória seja sempre de Deus.
•Uma reflexão maravilhosa, que
deve ser levada a sério por cada um de nós.
Pr. João Marcos.
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